Verdade para quem?
“Quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra!” diz a cantora Pitty, em uma de suas músicas. Atualmente, tem sido ainda mais difícil viver em um mundo onde todos brigam por verdades: verdades sobre as coisas, sobre as situações, sobre a vida em si, exigindo a verdade alheia. Sendo que a verdade mais difícil de “engolir”, ou melhor digerir, é que a “VERDADE” ninguém sabe.
Mentimos em nossa grande maioria para nós mesmos, ocultamos pensamentos, reprimimos sentimentos, disfarçamos comportamentos porque nosso Eu Real está bem longe daquele idealizado por nós, assim, reproduzimos externamente aquilo que nos parece bonito e ideal.
Então defendemos verdades, enquanto enganamos a nós mesmos, brigamos com o mundo, enquanto na realidade a briga é interna.
Vivemos com medo de nossa própria falta de verdade: medo de não ser aceito, medo de nossas escolhas, medo do futuro. Medo do final da vida que é a única grande verdade e certeza que temos, mas que não queremos aceitar e a todo custo tentamos fugir.
No Yoga, Satya é um importante preceito ético a ser seguido, refere-se a veracidade, pois nosso sofrimento interno se deve ao não alinhamento do nosso pensamento, do nosso sentimento, da nossa palavra e como consequência da nossa ação. Afinal, como poderemos descansar em paz, se não vivermos em conformidade com a verdade expressa em nossos corações?
Nos Yoga Sutras de Patanjali, uma importante escritura sagrada no Universo Yóguico, o verso 2.36, diz: “Para aqueles cujos princípios estão assentados na veracidade, as ações e seus resultados tornam-se subservientes.” Ou seja, agir no mundo conforme aquilo que é verdadeiro (Satyam), agradável (Priam) e útil (Ritam) converge ao praticante harmonia e coerência em seus feitos, como consequência trará uma mente serena e plena de si mesma.
Portanto, agir e comunicar-se com veracidade, porém de forma não violenta, sem impor sua verdade sobre o outro, e ao mesmo tempo expondo seu sentir, exige do praticante coragem, espontaneidade e autenticidade.
A autora Déborah Adele, em seu livro “Yamas e Nyama: a ética do Yoga”, afirma que: “O verdadeiro é algo que nem sempre vamos gostar no outro, mas descobrimos que assim não há surpresas. Embora o verdadeiro nem sempre seja agradável, ele é confiável”. Sendo assim, considera-se aqui o treino, pois parece que este importante preceito é uma habilidade a ser desenvolvida, ainda mais na atual conjuntura da humanidade.
Buscar viver a vida alicerçada sobre o pilar de Satya, nos torna livres para ser quem realmente somos, desfruta-se de mais energia e vitalidade para usufruir e manifestar nossas potencialidades, e assim expressamos nosso verdadeiro Ser, precisando menos do externo para satisfazer carências decorrentes das frustrações de não poder ser quem somos.
As chances de arrependimento diminuem vertiginosamente, mesmo que em algum momento tenha-se que arcar com o peso de nossa própria integridade, ou com a fluidez com que a Verdade se apresenta, pois nossas verdades internas se modificam ao longo da vida, conforme os véus de ilusão vão se desfazendo, ao viver Dharmicamente.
Só assim poderemos descansar em paz, afinal vivemos uma vida que pediu para ser vivida, ou melhor, bem vivida!
Por Mariangela Ferreira da Silva
Aluna da formação em Hatha Vinyasa Yoga on-line 2021/2
Instrutora de Hatha Yoga e Hatha Vinyasa Yoga
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